Texto baseado em uma frase de Adélia Prado |
O dia 8 de março é um marco histórico, uma data que remete a uma tragédia, quando inúmeras mulheres lutadoras, trabalhadoras da indústria têxtil morreram queimadas. Isso pressupõe que a data não é festiva, a data é de reflexão e retomada das lutas. Todas as mulheres precisam ver que não basta receber belas mensagens, flores, versos, cantos, afagos, neste dia, se durante os demais dias do ano, não formos respeitadas em nossos direitos.
Não precisamos querer igualdade aos homens, pois já ao nascer, não nascemos em condições de igualdade e não é concebível igualdade aos desiguais. Se nossa concepção for de busca de igualdade ao homem, já nossa própria concepção é machista, é a aceitação do homem como modelo, sua supremacia sobre as mulheres, sua superioridade, seu poder. É esta a mesma concepção que eterniza o viés de superioridade do branco sobre o negro e o índio.
O que devemos buscar é a igualdade de direitos, direitos humanos, direitos constitucionais legítimos, direito ao respeito, à dignidade, à educação, à moradia, à saúde, ao trabalho, à justiça, à cultura, à cidadania enfim. Direitos estes que também os homens devem buscar incansavelmente. É a igualdade na luta cidadã. A vida das mulheres e sua luta é a luta por um outro mundo que queremos para nossos filhos e netas e para nossas filhas e netos e, essa luta não pode ser segmentada, não é questão de gênero, hão há Adão e Eva, há a luta dos cidadãos, e o que queremos é isto:cidadania. Neste contexto, temos que ter uma luta não particularizada, mas uma luta de homens e mulheres.
Isso, no entanto, não significa fechar os olhos para a realidade perversa que herdamos, pois as mulheres, desde a longínqua história das civilizações, nascem sob a égide de um chefe de família, um todo poderoso homem, e segue submissa, violentada em seus direitos, sofrendo, ainda em 20l2 (mais de 2000 anos), violência física e psicológica, dentro e fora de seus lares, de onde emerge uma série de reflexões a serem feitas.
Com que direito um homem se dirige a uma mulher com palavras duras, palavrões, agressões físicas, como se fosse seu dono e senhor, como se isso fosse natural?
Por que razão o ”poder” na família, no trabalho, na política, na sociedade é natural para o homem e para a mulher resultado de intensa batalha?
Por que razão o ”poder” na família, no trabalho, na política, na sociedade é natural para o homem e para a mulher resultado de intensa batalha?
Por quanto tempo os filhos serão apenas os ”filhos e filhas da mãe”, para sustentá-los e educá-los, como se sozinha os tivesse concebido? Por quanto tempo emergirão lágrimas de corações cheios de mágoas, que transbordam de olhos inchados e roxos? Até quando o medo dos machos silenciará mães e meninas vítimas de abuso sexual, agressões físicas, torturas psicológicas? Até quando a sociedade mundial assistirá indiferente à prática da mutilação genital feminina nos países africanos e em outros, como se não fosse violação de Direitos Humanos?
Por quanto tempo, em cada 8 de março, as mulheres aceitarão homenagens, versos e flores, na condição de donzelas, quando deveriam reunir-se para discutir questões econômicas, políticas, sociais e culturais, sobre as quais devem incidir para a inversão da realidade, abraçando a causa da má distribuição de renda, da injustiça social, como a maior bandeira de sua luta, a única capaz de trazer outra realidade para seus filhos e filhas?
Enfim, em 8 de março, que cada mulher ouça o que determina Adélia Prado:Vai carregar bandeira! . Isso não é cargo muito pesado pra mulher. A mulher que precisa deixar de ser esta espécie ainda envergonhada, para ser a cidadã construtora de outra história, entendendo que os hematomas de seu corpo, as cicatrizes ou as feridas abertas de sua alma, advém de uma herança cultural que só será superada por uma nova educação para meninos e meninas. Entendendo que quem os educa são as mulheres.Entendendo que é hora de nos abraçarmos aos homens de bem, na luta por uma causa maior:o fim da miséria humana, o direito à vida com dignidade. É hora de parar de choramingos. É hora de superar Amélias e Madalenas. É chegada a hora das Dilmas.
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